Ralfe Braga fez duras críticas ao jovem que postou seu mergulho na madrugada dentro do espelho d'água criado pelo artista
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Por SELES NAFES
O artista plástico amapaense Ralfe Braga, autor da escultura e do espelho d’água que recebem os visitantes no Mercado Central de Macapá, divulgou um desabafo esta semana nas redes sociais. Ele condenou a atitude do jovem que transformou o local em “sua piscina particular”.
E foi além, afirmando se tratar de um “idiota digital”. O jovem, que ainda não foi identificado, causou opiniões controversas nas redes sociais ao tomar banho (com direito a pulos), aparentemente de madrugada, no espelho d’água idealizado por Ralfe Braga, que também assina outras obras de arte no interior do Mercado Central.
Em sua postagem, o artista que mora em Brasília lamentou o comportamento do jovem anônimo e lembrou do pai, que ajudou na construção de outra escultura numa famosa praça de Macapá.
Apesar de demonstrar estar pessoalmente ofendido com a “brincadeira”, Ralfe fez questão de deixar claro que acredita na maioria do povo amapaense que valoriza a boa aplicação de seus impostos, e na rica cultura tucujú.
Ralfe Braga em entrevista ao Portal SelesNafes.Com em 2018. Foto: Gilberto Almeida/Arteamazon.com
Leia o desabafo na íntegra
Fonte luminosa
As lembranças andam um pouco desbotadas, mas ainda recordo bem do orgulho de moleque que senti quando da inauguração de uma fonte luminosa em vários estágios coloridos na praça Veiga Cabral, em frente a (extinta) Casas Pernambucanas. O sentimento era dobrado porque a parte elétrica fora feita por meu pai. Naquele momento, não existia ninguém mais importante no mundo do que a figura daquele gênio que dera à luz a fonte. E era linda!
Imaginava, com alegria, que a minha cidade agora tinha uma fonte igual aos dos grandes centros. Me sentia moderno, conectado com o mundo contemporâneo. Tudo por causa de uma fonte luminosa.
Em meados do ano passado, recebi a visita, no meu ateliê, do prefeito de Macapá e sua equipe que me apresentou o projeto para a revitalização do Mercado Central junto com a solicitação para que elaborasse algumas propostas artísticas para o antigo prédio.
Após mergulho, jovem subiu na escultura. Foto: Reprodução
Dentre as ideais apresentadas por todos os presentes, a sugestão de um espelho d’água com uma escultura no centro gerou muita preocupação devido a sua localização externa, vulnerável ao vandalismo. Naquele momento lembrei-me da fonte de meu pai que acabou caindo no esquecimento, não por depredação, mas cedeu às inúmeras reformas feitas na antiga praça ao longo do tempo.
Ponderei que era necessário apostar na educação das novas gerações que agora frequentam boas escolas e universidades no próprio Estado e, acima de tudo, possuem ferramentas poderosas que os colocam em contato instantâneo com o pensamento moderno do mundo lá fora. Era preciso acreditar.
Ralfe assina outras obras no interior do mercado. Foto: Rafael Oliveira
Inaugurado o complexo do Mercado Central, observei com muita alegria o grande interesse e respeito do cidadão amapaense com o seu novo marco turístico, manifestando atenção especial à escultura sobre o espelho d’água que se transformou num ponto “instagramável” por famílias inteiras.
Nesta semana, me causou temor quando vi, nas redes sociais, um jovem de boa aparência transformando o espelho d’água em sua piscina particular, certamente assumindo para si o estereótipo do idiota digital da vez, abrindo um precedente, incômodo e pouco saudável, diante dos olhos daqueles contribuintes que valorizam e reconhecem a boa aplicação de seus recursos e que, portanto, precisa ser muito bem cuidado.
Ainda tenho fé no amapaense que valoriza o que é seu de fato e que não se deixa influenciar por referências pouco dignas e que ainda condena a parca e distorcida consciência mental e de valores morais de uma minoria que teima em afrontar a nossa histórica e rica formação tucujú.
